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Artigo: As soluções da Engenharia Hídrica para as enchentes e inundações em Santa Catarina


Por Ricardo Wegrzynovski, especial direto de Portugal *

 

“Não há segredos, há trabalho”. Com este lema, a prefeitura de Joinville, localizada ao Norte de Santa Catarina, tem feito o que pode para conter as cheias que inundam o Centro e muitos bairros da cidade. As graves inundações, em maiores proporções, ocorrem no Vale do Itajaí. O problema: as chuvas e a influência das marés. As soluções: um conjunto de obras de engenharia hídrica.

Em Joinville as atuais obras do Rio Mathias são de fato um importante passo para a solução. No entanto, para resolver o centenário problema, serão necessárias outras ações. É o que afirma o professor de pós-doutorado, Francisco Taveira Pinto, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em Portugal. Especialista em engenharia hidráulica, Taveira foi orientador do doutorado de diversos professores brasileiros.

“Podemos ter um conjunto de intervenções”, sugere o professor. A primeira delas é o desvio parcial dos rios. O que seria mais fácil em Joinville pelo fato do Cachoeira ser razoavelmente pequeno. A sugestão é que se faça um outro leito, que deságue na Baía e desvie da cidade.

“Durante o período de estiagem continua tudo como funciona até o momento. Quando o volume do canal encher a um determinado limite, o curso da água não tem a capacidade de drenar sem provocar inundações. Então esse excesso tem que ser desviado para um curso d’água artificial. Pode ser um canal ou até um túnel, depende da geografia do terreno, e portanto dividimos o mal pelos dois cursos de água”, sugere Taveira.

Os diques do Ninfo

Outras saídas são drenagem, desassoreamento, alargar e aprofundar o atual canal. Os “diques” defendidos pelo vereador e empresário joinvilense Ninfo König são também elencados como solução pelo professor de pós-doutorado Francisco Taveira Pinto.

A construção de diques laterais “aumentando a altura das margens dos rios. Isso de alguma forma aumenta a capacidade de vazão”. A solução impediria que zonas mais baixas fossem inundadas.

A influência da maré – Além dos diques laterais, ao menos outros dois tipos podem ser implementados. Os diques de eclusas, são basicamente barreiras de contenção operadas por sistema hidráulico. As paredes, em formato de comportas são erguidas e baixadas de acordo com a maré, impedindo que o rio tenha influência destas águas. O sistema resolveu os problemas das enchentes em Aveiro, a “Veneza Portuguesa”.

Outro sistema de diques implementado em Portugal está situado no Rio Mondego, o maior da região de Coimbra. Trata-se de um sistema de comportas. O modelo salva há anos toda a região agrícola e também o Litoral central, impedindo a inundação de cidades como Figueira da Foz, uma das principais praias portuguesas. Os diques e represas além de conter as cheias fruto das marés, podem gerar energia.

 

Clique na imagem e acompanhe entrevistas em vídeo realizadas por Ricardo, em Portugal, que originaram este artigo.

 

Bioengenharia e renaturalização

Tendência mundial, os cuidados ambientais em obras deste tipo são fundamentais. E neste sentido surge a palavra “Bioengenharia”, onde as soluções procuram ter o mínimo impacto. E assim outra importante saída é a reabertura de canalizações.

Em Joinville boa parte dos pequenos riachos, hoje tampados, deveriam ser reabertos, como sugere Taveira. “A filosofia que está sendo usada hoje em dia busca reutilizar os recursos da água, e para isso temos que voltar à situação anterior e portanto, desentubar muitas dessas ligações”.

“Voltar a termos os rios completamente naturais, com verde, com vegetação. E uma das formas de fixar essas margens é colocar elementos naturais, troncos de árvores para fixar as laterais e fomentar um pouco a vegetação natural, que vai nascer ou então ser plantada. Isso são chamadas técnicas de bioengenharia, porque dessa forma conseguimos uma melhor forma de secção de vazão. É muito melhor que a tubagem como era no passado”.

“Há um conjunto de possíveis soluções, repito nem todas têm o mesmo peso, mas devem ser conjugadas. São soluções teóricas que tem que ser analisadas com detalhe, enfim, poderão ajudar a minimizar o problema” encerra Taveira.

A influência das marés, rios e chuvas
Caso do Vale do Itajaí

Além de Joinville, outro caso que há solução são para as enchentes e inundações que assolam periodicamente a região do Vale do Itajaí. “São dois casos típicos ou característicos que ocorrem em vários pontos do mundo, de cidades quase que costeiras que sofrem a influência do curso d’água principal, de um rio que as atravessa e por outro lado a influência do mar que também está próximo”, exemplifica Taveira.

Devido ao alto volume d’água do Vale do Itajaí, que se encontra com a maré, a situação requer obras mais complexas. Uma das soluções sugeridas é a construção de barragens, aos moldes de Aguieira, também em Portugal.

“Provavelmente nas zonas de cabeceiras da bacia hidrográfica. Portanto se for possível também, construir uma barragem de maré, evita esse efeito. De qualquer maneira, nós queremos evitar que a maré se propague para dentro do curso da água, mas numa situação de cheia, nós queremos evitar que a água possa sair para o mar, daí também há um conflito e tem algumas vantagens, mas também desvantagens, principalmente se ocorrem ao mesmo tempo”, afirma Taveira.

Manuel Ferreira Ricarte, há 30 anos operador de eclusas em Aveiro, afirma que no caso de chuva e maré alta, a solução dos diques é uma saída. “Pois assim que baixa a maré, abrem-se as comportas, e a enchente acaba em instantes”, afirma.

 

Eclusas de Aveiro, em Portugal

Dique do Rio Mondego, Portugal

* Ricardo Wegrzynovski é assessor do empresário e vereador Ninfo König, em Santa Catarina. Ninfo é um entusiasta do setor hidráulico e pretende incentivar projetos governamentais nesse sentido.